Pesca, uma bonita aventura destinada aos mais corajosos
Foto de Ademir Henrique, publicada em A Tribuna no dia 20/6/1982
As máquinas que pescam
e podem substituir muitos pescadores
Para começar a pescar, basta acionar o botão no painel
de comando instalado no barco. As varas de pescar, colocadas nas bordas da embarcação, começam a se movimentar em direção ao mar, retornando ao
barco. A velocidade da captura depende do tipo de peixe fisgado e, assim que o bonito morde a isca, é jogado automaticamente para o interior do
barco, onde os tripulantes o congelam.
Antes de o peixe cair no barco, ele é limpo, porque existe, em sincronia com as varas,
um sistema de lavagem formado por inúmeros chuveiros adaptados do lado de fora do barco. Outra função desses chuveiros é esconder a embarcação dos
cardumes, simulando o movimento das águas, por meio de jatos.
O equipamento, além de aumentar a produção, elimina 15 tripulantes nas embarcações que
atuam com 25 homens. Os benefícios para o armador são grandes, pois com as máquinas não há necessidade do pagamento dos pescadores, bem como de
impostos e taxas de previdência social, além de diminuir os gastos com alimentação. O dinheiro que antes era pago aos tripulantes será destinado ao
dono do barco, pois os produtores explicam que cada máquina é considerada como um pescador e, ao final da pescaria, a divisão do lucro é feita de
forma igual.
O maior barco para captura do bonito é de um santista
Também otimista com o futuro da pesa de bonito, João
Gabriel Leal, ex-presidente da Cooperativa Mista de Pesca Nipo-Brasileira, pretende lançar ao mar o João de Deus, até o final do ano. A
embarcação de 36 metros de comprimento, construída em 1950 em Vigo (Espanha), foi recentemente adquirida pelo armador e é o maior barco que se
dedicará a essa captura.
Até dezembro, o João de Deus permanecerá na Compesca, onde está sendo
reformado. A seu lado, está a balsa Rio Formoso, adquirida por Leal, em leilão da Capitania dos Portos do RIo de Janeiro. Ela também será
adaptada para a pesca do bonito.
Leal explica que a pesca da espécie oferece rentabilidade, porque o bonito é destinado
ao mercado externo, tendo boa aceitação na Europa e Estados Unidos. Embora no Brasil não exitam indústrias de enlatamento da espécie em grande
escala, Leal diz estar otimista e afirma que para haver o desenvolvimento da indústria de enlatados, primeiro deve existir produção suficiente.
Ele defende a idéia de que o governo brasileiro incentive o desenvolvimento da pesca
de linha, aproveitando-se a frota pesqueira ociosa, em face do problema das 200 milhas. Isto porque, quando foram estipuladas as 200 milhas,
embarcações de grande porte ficaram paradas, como é o caso do João de Deus, que tem capacidade para 160 toneladas e possui 10 tanques para
acondicionar as iscas vivas. O barco terá 25 tripulantes e poderá ficar no mar até 20 dias. Mas, Leal está estudando a possibilidade de frigorificar
a embarcação, aumentando a permanência no mar, para até 40 dias.
Boas perspectivas para as indústrias de enlatamento
A indústria de enlatamento de pescado no Brasil poderá
ter seu desenvolvimento e estabilidade implementados com o processamento dos atuns e bonitos. A afirmação é do professor Sérgio Antunes, responsável
pelo Instituto Oceanográfico da USP, que recentemente teve aprovada tese sobre Processamento, Parâmetros de Qualidade e Espécies de Atuns e
Bonitos no Desenvolvimento da Indústria de Enlatamento de Pescado no Brasil.
Em seu trabalho, o professor explica que foram encontradas dificuldades na
classificação dos chamados bonitos, confusões nas nomenclaturas comumente empregadas e deficiência no controle dos desembarques e estatísticas. Por
essa razão, foi estabelecido um convênio entre a Sudepe e o Instituto da USP, além de terem sido executados programas de pesquisa e demonstrações
realizadas diariamente nas indústrias.
Durante longo tempo foram observadas quatro espécies de bonito, denominadas
bonito-serrinha, bonito-pintado, bonito-de-barriga listrada e bonito-banana, e o trabalho propõe a utilização das espécies para o enlatamento,
diversificando a linha de produção das indústrias.
Antunes argumenta que o enlatamento da espécie (N.E. -
provável trecho omitido: ...dependerá da garantia de disponibilidade...), e como essa disponibilidade depende de
condições que estão fora do controle do homem (processos dinâmicos do ar e do mar), a dependência de uma só fonte de matéria-prima é perigosa. Essa
situação, diz Antunes, poderá ser alterada com a exploração de outras espécies; no caso, o atum e o bonito surgem com grandes perspectivas de
sucesso.
O enlatamento dessas espécies poderá contribuir com o aumento do consumo de enlatados,
que é baixo, e diminuir as importações brasileiras de atum, provenientes do Peru e do Equador. Em 1975, foram adquiridos 1.879.995 quilos de atum,
cabendo às conservas de pescado 84 por cento do total de importação de enlatados.
As últimas informações, segundo a Sudepe, são de que o Brasil importou em 1980, de
janeiro a junho, 224.998 quilos de atum e 1.589.853 quilos de bonito. Já as exportações desses peixes congelados inteiros vêm aumentando aos poucos,
mas ficam restritas prncipalmente ao bonito-de-barriga listrada, quando há outros peixes da mesma família que poderiam ser capturados.
A Cooperativa Mista de Pesca Nipo-Brasileira, a maior do País, já está ampliando sua
capacidade de congelamento para processar o bonito, mas até agora, das 500 toneladas descarregadas no período de um ano, a maioria foi vendida para
outras firmas exportadoras. O presidente da Nipo, José Conca Otero, explica que esa pesca ainda é insegura e não há condições de fazer negócios com
firmas do exterior, porque estas exigem quantidades regulares do produto.
Outras indústrias que trabalharam ou trabalham com o bonito são a Multipesca, que -
além do pescado congelado - exportou o bonito pré-cozido; a Alcyon, que em 1979 elaborou produção razoável, mas atualmente não opera com essa
espécie. Em outros estados, a Furtado S/A Comércio e Indústria, Frigoríficos Industriais de Alimentos S/A, Sul Atlântico de Pesca e a Leal Santos
S/A.
Legislação nacional para determinar padrões de qualidade
O valor e a comercialização internacional do atum e do
bonito enlatado levaram ao estabelecimento de definições e padrões, nos países produtores e consumidores, como de organizações internacionais
relacionadas com a produção, comercialização e controle de qualidade de alimentos.
Sérgio Antunes explica, em seu trabalho, que as organizações estudaram o assunto e, em
1975, publicaram as recomendações internacionais para o enlatamento, com a finalidade de proteger a saúde do consumidor e do produtor. Mas,
infelizmente, no Brasil a legislação empregada pela Secretaria de Inspeção de Produto Animal (Sipa) é totalmente omissa. Uma sugestão do estudioso é
que o órgão inicie trabalho nesse sentido, pois a medida contribuirá também para analisar o produto que está sendo consumido, proveniente do Peru.
Uma espécie de alto valor comercial que migra pelo mundo
Os atuns e bonitos são espécies de ampla distribuição
mundial, realizam migrações muito extensas, determinando que suas populações sejam exploradas por frotas pesqueiras de vários países. Os
pesquisadores separam os atuns em dois grupos: o primeiro e mais importante, formado por seis espécies: albacora de laje, albacora branca, atum
cachorra, atum, atum do sul e bonito de barriga listrada, que representam 75 por cento da captura mundial de atuns e afins.
O segundo grupo é composto pela albacorinha, bonitos, que representam 20 por cento das
capturas. O bonito de barriga listrada, que atualmente vem sendo capturado pelo método de isca viva, tem o corpo fusiforme e robusto, e apresenta
escamas somente em sua parte anterior, e ao longo da linha lateral. O dorso é preto-azulado e o ventre branco prateado, com listras escuras, que
deram origem ao nome popular. O peso dos exemplares varia de três a 11 quilos e, no máximo 15 quilos.
A espécie é encontrada nos mares tropicais e subtropicais do mundo, com maior
freqüência nos meses quentes. Vive perto da superfície, formando cardumes compostos por algumas dezenas de peixes, até por concentrações que podem
chegar a 34 quilômetros. A carne dessa espécie é classificada como fina, e o consumo é feito principalmente pelos Estados Unidos, Japão, França,
Espanha, Itália e Alemanha.
Seu ciclo de vida é adaptado a migrações constantes, e como não possui bexiga
natatória, o bonito é obrigado a movimentar-se constantemente. Apesar de ser um animal de sangue frio, possui sistema de termo-regulação para manter
a temperatura do corpo superior à da água.
Os bonitos nadam com a boca aberta, de modo que o fornecimento de oxigênio depende da
velocidade de natação. Quando a espécie fica adulta, a taxa de metabolismo aumenta, elevando a temperatura do corpo, o que explica a procura das
águas frias. |