A fachada da Igreja de N.S. do Rosário, recentemente reconstruída
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O Largo do Rosário e a sua vetusta igreja
A. Passos Sobrinho
Diversas têm sido as denominações dadas ao
Largo do Rosário: primeiramente, quando mais apertado e o contornavam somente casinhas velhas dos tempos coloniais, era
conhecido como "Pátio dos Milagres"; por ocasião da Revolta de Canudos em 1905, tomou a denominação de Praça Moreira César, em homenagem à memória
desse soldado-herói, que tombou no interior do sertão baiano, durante a guerra civil que o Brasil sustentou com os jagunços chefiados por Antonio
Conselheiro. E, por último, veio a tomar o nome de Praça Rui Barbosa como gratidão do povo brasileiro a esse outro eminente vulto patrício, que se
destacou, entre outros feitos pátrios, como representante do Brasil na Conferência da Paz, realizada em Haia.
A Praça Rui Barbosa, também conhecida como Largo do Rosário, é o coração da terra
santista, sendo ali o ponto de convergência e também de permanência - durante as altas horas do dia até ao entardecer - dos homens de negócios e dos
entusiastas pelos números sorteados das loterias, e ainda daqueles que, também com entusiasmo, aguardam as mais recentes notícias do desenrolar dos
acontecimentos no Velho Mundo.
A Praça Rui Barbosa é igualmente o ponto de partida e chegada de diversos bondes
procedentes de vários dos nossos arrabaldes, conduzindo o pessoal que trabalha na cidade, representado por gente de todas as classes sociais, na
maioria moços e moças.
Temos, por várias vezes, observado que muitas dessas senhorinhas e mesmo rapazes (sem
falarmos em pessoas idosas), ao descerem dos bondes se encaminham em seguida para a Igreja do Rosário, onde vão fazer suas orações, e, quem sabe se
também para agradecer à Virgem do Rosário, algum milagre realizado.
O Largo do Rosário, junto à sua Igreja, continua a ser o local escolhido, durante as
festividades da Semana Santa, para o doloroso encontro de Jesus Cristo, em caminho do Calvário, com a sua Santa Mãe, N. S. das Dores.
É naquele ponto, por ocasião dessas cerimônias religiosas, onde a fé cristã mais se
patenteia e se faz sentir nos corações dos fiéis santistas, que sempre, em grande número, participam de tão tocante cerimônia, seguida de um
sentidíssimo sermão alusivo à Paixão de Cristo, quase sempre pronunciado por um dos melhores oradores sacros.
Nessas ocasiões, em muitos daqueles fiéis se observa o seu sentimento de fé religiosa,
por trazerem os seus olhos marejados de lágrimas.
Daí, certamente, a razão de, em outros tempos, ser o Largo do Rosário conhecido como o
Pátio dos Milagres, e mui especialmente talvez por sua preferência para servir como o "Terceiro Passo Doloroso" do Mártir do Gólgota.
A Igreja de N. S. do Rosário, que pertence à Irmandade de N. S. do Rosário, foi
fundada em 1756, sendo o Diocesano (2º) D. Frei Antonio da Madre de Deus Galvão nomeado e confirmado pelo S. S. Papa Benedito XIV, por bula de 17 de
março de 1750, e fizera entrada solene a 28 de junho de 1751, véspera dos Santos Apóstolos, S. Pedro e São Paulo, ocupando o trono régio de
Portugal, D. João V, o Magnânimo e Fidelíssimo.
A Irmandade, porém, teve a sua primitiva denominação de Irmandade do Rosário dos
Pardos, erigida num dos altares da igreja da Santa Casas da Misericórdia, no dia 1º de outubro de 1652, sendo mais tarde substituída pelo nome de
"Irmandade de N. S. do Rosário dos Homens de Cor", e a 3 de outubro de 1934 tomou a denominação atual de Irmandade de N. S. do Rosário.
Da Comissão elaboradora do novo compromisso dessa Irmandade, aprovado pela respectiva
Mesa Administrativa, em sessão realizada a 12 de setembro de 1934, faziam parte os seguintes senhores: comendador Manoel Fins Freixo, Joaquim Vieira
do Couto, Acácio Augusto de Almeida, José dos Santos Sobrinho e padre Luiz Gonzaga Rizzo.
No ano de 1926, como fosse bem precário o estado da antiga construção secular,
constituiu-se uma comissão sob a presidência do saudoso comendador Manoel Fins Freixo, sendo tesoureiro o sr. Antonio José Rodrigues Guimarães e
secretário o sr. José dos Santos Sobrinho, que promoveu a reforma da igreja, transformando-a num belíssimo e moderno templo religioso, dispondo de
todas as dependências necessárias ao regular funcionamento da Paróquia e da Irmandade de N. S. do Rosário. É justo que se destaque, pelo seu
trabalho contínuo e afanoso, na obra da reconstrução da velha igreja, o sr. José dos Santos Sobrinho.
O teto, o piso, os altares - inclusive o altar-mor -, os paramentos, a iluminação
interna e externa - tudo, enfim, passou por uma completa transformação, obedecendo aos riscos modernos, merecendo uma especial referência a
iluminação elétrica com lâmpadas cravadas na fachada do templo, representando as letras iniciais da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, cujo
efeito feérico e interessante só pode ser observado à noite.
Os sinos da Igreja do Rosário foram fundidos em Portugal, na Vila de Cantanhede,
distrito de Coimbra, terra tradicional, berço de d. Antonio Luiz de Menezes, marquês de Marialva.
Há pouco, devido à construção de um prédio ao lado da igreja, foram abaladas as suas
paredes. A esse tempo cuidava-se da construção do Consistório e da Sacristia, ao lado da Rua Vasconcelos Tavares, para que envidou os seus melhores
esforços a comissão composta dos srs. Jaime de Campos Freixo, vice-presidente; Nelson Prieto Blanco, tesoureiro; e José dos Santos Sobrinho,
secretário, cujas obras estão quase terminadas. Tendo entendimentos com os proprietários do prédio construído ao lado da Igreja, cujos trabalhos
determinaram o abalo das paredes, a Comissão de Obras chegou a felizes resultados, apresentando-se, atualmente, a Igreja do Rosário com o
frontispício novamente reformado, com obediência ao estilo primitivo, que se mantém desde a data da sua fundação.
Pelo seu trabalho, para manter um dos mais antigos templos de Santos, merece justos
louvores a Irmandade N. S. do Rosário e a comissão de obras que está levando a termo o trabalho da sua completa reforma, executado de modo a
perpetuar-se, pela solidez, em fundamentos de cimento armado, e equipará-la às demais construções que embelezam o Largo do Rosário, ou Praça Rui
Barbosa.
Em conclusão: esse importante trabalho, que se está realizando na vetusta Igreja do
Rosário, é um dos muitos levados a efeito com o auxílio decisivo da laboriosa colônia portuguesa local, sempre pronta a colaborar com o povo
santista na obra de reconstrução e modernização da nossa cidade.
Um dos irmãos, que sempre prestou relevantes serviços à Irmandade de N. S. do Rosário,
com amor e perseverança, foi o saudoso ex-provedor, Antonio José Rodrigues Guimarães, que faleceu em 22/1/1933, deixando a mais profunda
consternação e saudade, não só no seio da Irmandade a que pertencia, como também aqui fora, onde gozava de geral estima.
A Mesa Administrativa atual da Irmandade de N. S. do Rosário está assim constituída:
Abílio Franco de Carvalho, provedor; Amadeu Pereira Brandão, vice-provedor; José dos Santos Sobrinho, procurador; Alberto Lopes da Silva,
vice-procurador; José da Costa, tesoureiro; Acácio Augusto de Almeida, 2º tesoureiro; Nelson Prieto Blanco, 1º secretário; Manoel Martins da Silva
Leal, 2º secretário; Gil Rodrigues Regalado, Manoel Macário da Silva, Moacir Apolo dos Santos, Joaquim Elói Santana, Lourival de Matos e Waldemar
dos Santos, consultores; e monsenhor Luiz Gonzaga Rizzo, capelão.
Vêem-se, no clichê, os srs. Jaime de Campos Freixo, Djalma de Campos Freixo, Nelson
Prieto Blanco e José dos Santos Sobrinho, membros da Comissão de Obras; e Abílio Franco de Carvalho, provedor da Irmandade de N. S. do Rosário
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